Opinião: É fundamental saber quem paga o almoço

Foto: Renato Araújo / Agência Brasília

*José Álvaro de Lima Cardoso

Só iremos compreender as “contrarreformas” que o governo está empurrando goela abaixo da população brasileira, se entendermos que todas elas, sem exceção, visam solucionar uma crise do capitalismo ao nível internacional, aumentando o repasse, aos países ricos, de: petróleo, água, minerais e território para instalação de bases militares (como foi feito com a base de Alcântara, no Maranhão, recentemente). Além de outras formas, financeiras, de extorsão e exploração, tão ou mais eficientes.

É bem conhecida a frase “não existe almoço grátis”, atribuída ao economista Milton Friedman, maior representante da Escola ultra liberal de Chicago. Quando se trata dos povos dos países subdesenvolvidos, de fato, Friedman tem inteira razão. Este maior repasse de riqueza para o centro imperialista, significa retirar o pão da boca dos povos da periferia. Por exemplo, no Brasil, tão logo deram o golpe, trataram de desmontar a Lei de Partilha, que previa uma maior retenção da renda petroleira no país, parcela que seria destinada para a educação e saúde da população.

Completado o impeachment, já com o representante da Shel na presidência (“MiShel” Temer), a “partilha” passou a ser feita exclusivamente entre os banqueiros. Quem paga o almoço e o jantar da burguesia petrolífera, com champanhe e caviar, é o povo brasileiro, que perdeu a possibilidade de melhorar de vida através dos recursos do pré-sal. Os recursos deste, que era considerado, antes do golpe, o “passaporte do Brasil para o desenvolvimento”.

No Brasil acontece uma coisa muito extraordinária. O país dispõe de imensas reservas, bilhões de barris de petróleo, é o 10º produtor do mundo, o maior da América Latina, acima da Venezuela e do México. Como se sabe o petróleo é “ouro negro”, pois não tem substituto a curto prazo como matéria prima e fonte de energia. Mas a renda petroleira, que é abundante pois trata-se de produto fundamental, serve a quem? Ao povo brasileiro não pode ser porque pagamos quase R$ 6,00 reais o litro da gasolina e quase R$ 100,00 o botijão de gás. O Estado brasileiro fica com uma parcela, através de alguns royalties e impostos. Os trabalhadores petroleiros também não se beneficiam porque ganham salários baixos, que foram perdendo poder aquisitivo nos últimos anos. A parte do leão fica, claro, com as multinacionais privadas, controladas pelos bancos que se apropriam da renda petroleira, para aumentar seus lucros no curto prazo.

Outro segmento que se beneficia são os bancos, que financiam o negócio, e querem a maior margem de juros possível. Se apropriam também as empresas estatais estrangeiras, que visam preservar a segurança energética de seus países. Preferem inclusive transportar o óleo bruto, para refinar em seus países, agregando valor e gerando emprego qualificado, na riquíssima cadeia do petróleo. E a renda petrolífera é apropriada também pelos especuladores da bolsa, seja aqui, seja em Nova York. A Petrobrás é a ação mais importante da bolsa brasileira, chamada de “Golden Share”, porque é a empresa é muito sólida e porque o Brasil tem muita reserva de petróleo.

No caso dos trabalhadores brasileiros este dia 1º de maio coincide com um período no qual a classe trabalhadora jamais foi tão atacada em seus direitos em toda a história. São centenas de ações, desde 2016, destruindo direitos e renda, como nunca foi visto na história do Brasil. A fome, que tinha sido controlada, se tornou novamente um problema generalizado no país. Depois de ter saído do mapa da fome voltamos a fazer campanha contra a fome. Isso está ocorrendo num momento em que já morreram 400 mil pessoas de covid19 pelo descaso dos governos, vamos chegar, em menos de um mês, a um número de 500.000 mortos. Quase 7% da população brasileira já pegou covid19, talvez 80% delas sem necessidade, decorrência do total desleixo do governo Bolsonaro e vários governos estaduais.

O número de 500 mil mortos, que o Brasil deve atingir em pouco tempo, é maior do que a população da maioria das cidades brasileiras. Enquanto isso, as insuficientes vacinas existentes vão sendo administradas basicamente nos países ricos, a ponto de 75% das doses terem sido destinadas a um grupo de 10 países. O governo norte-americano, agora pressiona descaradamente o Brasil para não fazer negócio com a Rússia, como está muito evidente, o que é um escândalo inominável. Obviamente o subserviente governo Bolsonaro vai obedecer a ordem sem questionar.

O comportamento de Bolsonaro, e da esmagadora maioria dos governadores, se explica pelo fato de que a ordem do Capital era não gastar com o povo. No ano passado, por exemplo, Paulo Guedes, liberou em uma semana R$ 1,2 trilhão para capital de giro nos bancos. No entanto, para começar a pagar os miseráveis R$ 600,00 para quem passava fome (que depois caiu para R$ 300,00), adiaram meses. Guedes, inclusive, propôs inicialmente um auxílio de R$ 200,00. Vamos lembrar que o salário mínimo necessário calculado pelo DIEESE, para uma família de 4 pessoas, deveria ser de R$ 5.315,74 em março.

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